terça-feira, 13 de março de 2007

CONSERVADOR

Fui comunista, passei a ser um social-democrata e já à caminho do ocaso me tornei mesmo é num conservador na acepção máxima da teoria. Refuto a idéia de direita e esquerda proposta por Bobbio. Essa concepção morreu com a queda do socialismo captaneado pela União Soviética. O conservadorismo é uma corrente politico-filosófica que defende que as melhores instituições não são aquelas que resultam de projetos feitos a partir do nada, mas sim de uma evolução gradual e “natural” ao longo dos séculos. A base desse conservadorismo é o pessimismo antropológico, ou seja, a idéia de que o homem é naturalmente egoísta. Ao contrário dos “progressistas”, que consideram que o homem é naturalmente bom, racional e feliz e que é a sociedade que o torna mau e infeliz (e, portanto, para melhorar o homem, basta melhorar a sociedade), para nós conservadores, o homem é egoísta e é a sociedade e os seus hábitos e tradições que moderam e limitam a sua perversidade natural. Assim, para nós, o indivíduo só existe plenamente integrado numa sociedade e numa tradição – o indivíduo abstrato não existe: nós só somos o que somos em função da herança (material e cultural) que recebemos dos nossos antepassados. Esta submissão do indivíduo à sociedade, à primeira vista, poderia aproximar os conservadores dos seus arqui-inimigos, os socialistas e comunistas, mas, na verdade, estamos falando de coisas diferentes com a palavra “sociedade”: para os socialistas, a “sociedade” são os outros indivíduos, enquanto para os conservadores, a “sociedade” é constituída pelos hábitos, tradições, instituições, etc.Como, para nós, os conservadores, o Homem só existe dentro de uma sociedade e de uma tradição, isso significa que não faz sentido falar em "Direitos Humanos", nem elaborar projetos de sociedade ideal: povos diferentes vivem em sociedades diferentes e com tradições diferentes, logo o modelo sócio-politico mais adequado para o Brasil não será o mesmo que para a Malásia, e o que na Holanda seria considerado uma violação brutal dos “direitos humanos” (por exemplo a lapidação de uma adúltera) é considerada a ordem natural das coisas na Arábia Saudita. Assim, ao contrário das várias correntes liberais e socialistas, que têm todas elas uma concepção de sociedade (seja ele o capitalismo liberal, o Estado-providência, o regime soviético, a autogestão, etc.), nós os conservadores defendemos que cada povo deve viver segundo o modelo mais de acordo com a sua história e tradições específicas. Claro que há uma certa contradição no conservadorismo: como rejeitam tanto o individualismo como o universalismo, defendem que as diversas nações, regiões, grupos sócio-profissionais, universidades, cidades, famílias, etc. devem reger-se pelas suas tradições e regras específicas, ou seja, acabam por defender também um modelo de sociedade: uma sociedade de tipo “organicista”, em que tanto o indivíduo, por um lado, como o governo central, por outro, são subalternizados, e em primeiro lugar vêm os “corpos intermediários” – a família, o município, a profissão, a Igreja, etc. Para os conservadores, o Estado Moderno, criado pelas Revoluções Liberais, que se encontra face-a-face com o indivíduo isolado, é um monstro burocrático e para-totalitário. Assim, os conservadores consideram que o individualismo leva ao stalinismo (e o Liberalismo ao Totalitarismo): para eles, o desaparecimento das autoridades intermediárias gera um vazio que acaba por ser preenchido pela máquina estatal, e a defesa dos direitos individuais é a melhor desculpa que o Estado tem para interferir no funcionamento dos corpos intermédios. Por exemplo: quando interfere nas famílias para “proteger os direitos das crianças (ou das mulheres)”, ou das empresas para “proteger os direitos dos trabalhadores”, ou das comunidades locais para “proteger as liberdades civis”...! Daí surge, também, uma oposição à democracia (hoje em dia, quase totalmente abandonada): esta baseia-se no princípio “um homem, um voto”, que é um produto da tal idéia de se reconhecer apenas o Estado e o Indivíduo, ignorando os corpos intermédios. Em alternativa ao sufrágio igualitário, direto e universal, os conservadores, durante muito tempo, lutaram por sistemas baseados na representação dos grupos (e não dos indivíduos), como eleições indiretas, representação aristocrática, o mesmo número de deputados para várias regiões (independentemente da população), etc. Hoje em dia, este anti-democratismo quase que desapareceu, mas continua presente em alguns aspectos, como a defesa dos Lordes Hereditários pelos conservadores britânicos, ou do Colégio Eleitoral (onde o Presidente é, formalmente, eleito pelos Estados e não pelos indivíduos) pelos conservadores norte-americanos. Além disso, nota-se numa certa tendência conservadora que define “bom governo” como “governo que tem coragem para tomar medidas impopulares”. O pessimismo dos conservadores leva-os a ter uma atitude ambígua perante o poder do Governo: por um lado, porque acreditam que a maior parte dos problemas não têm solução, são pouco adeptos da intervenção governamental (por vezes, ainda menos do que os liberais); mas, por outro, exatamente porque acreditam que, qualquer coisa que se faça implica sempre em desagradar a alguém, acham que, nas poucas situações em que o governo intervenha, deve intervir com força e autoridade, estilo “murro na mesa”, sem perder grande tempo com “compromissos” ou “discussões”. No fundo, encontra-se de novo a nostalgia da Idade Média, onde o Rei mandava em poucas coisas (deixando grande parte dos assuntos aos senhores feudais, à Igreja ou aos municípios), mas, nessas coisas, a sua autoridade era incontestável.

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